23/7/2010
De hoje a domingo, o II Congresso de Escritores, Poetas e Leitores debate a produção literária, o mercado editorial e a formação de público leitor no CearáComeça hoje o II Congresso de Escritores, Poetas e Leitores do Ceará. Com o objetivo de fortalecer e integrar a cadeia produtiva do livro e da leitura no Estado, o grupo Chocalho organiza o evento, pautado em palestras, mesas-redondas e homenagens a escritores como a cearense Rachel de Queiroz e o português José Saramago.
A programação insere a literatura cearense em diversos temas, como mídia, história e mercado, convidando pesquisadores, jornalistas, escritores e demais participantes a repensar os modos de se fazer literatura no Estado. As deliberações das mesas-redondas que ocorrerão durante o sábado, 24, e na manhã do domingo, 25, resultarão em uma carta aberta, destinada à sociedade e ao governo.
"Nossa intenção é integrar os escritores, resgatando a autoestima deles, mas também reuni-los para pensar políticas públicas e cobrar das autoridades", afirma o escritor Auriberto Cavalcante, coordenador do Grupo Chocalho. Entre as propostas, a profissionalização dos escritores, o pagamento de direitos autorais e a criação de uma cooperativa de autores.
A inserção de "leitores" no nome do evento é o grande diferencial desta segunda edição. "Este congresso é um grito de alerta ao Brasil: nosso número de leitores tem diminuído. Os escritores precisam formar seus leitores, trazê-los para perto", destaca Auriberto.
O evento pretende refletir sobre o leitor como construtor do escritor cearense e propor um programa de formação de leitores. Assim, um dos destaques será o encontro de blogueiros do Estado, discutindo as novas tecnologias no fazer literário e na formação de público.
"Está tudo a um clique: leituras, alimento para a criatividade, divulgação e novas formas de interagir com os leitores... Pensar a Internet no fomento à leitura é muito positivo", afirma a escritora e blogueira Luiza Amorim, uma das palestrantes.
O congresso se encerra com homenagens a autores e instituições ligadas ao livro e à leitura. A taxa de inscrição solicitada pelo evento foi a doação de um livro, que irá compor o acervo de bibliotecas comunitárias.
Mercado e produção
A articulação da cadeia produtiva do livro - formada por autores, editoras, gráficas e livrarias - é um dos maiores desafios políticos do setor. É o que afirma Mileide Flores, uma das coordenadoras do Fórum de Literatura e Leitura do Ceará, também participante do congresso, em uma mesa de debates sobre mercado editorial.
Segundo Mileide, é preciso que sociedade e, sobretudo, governo percebam o livro como agente econômico, gerador de emprego e renda, além de agente de transformação social. A integração do setor é essencial para a conquista dessa visibilidade. "Em termos de integração política nessa área, o Ceará é um modelo para o Nordeste, mas ainda temos muito o que avançar", ressalta a coordenadora.
Quanto aos livros cearenses, Mileide alerta que eles ainda são pouco consumidos por conterrâneos, principalmente pela falta de acesso: "Os livros daqui são invisíveis aos cearenses, possuem espaços pequenos nas livrarias". A coordenadora destaca ainda uma perspectiva preocupante: a de que nossa literatura, muitas vezes, é estereotipada como regionalista e inferior. "A linguagem pode ser daqui, mas nossos livros e temas são nacionais sim. Jorge Amado, por exemplo, escreveu a Bahia, mas não por isso foi considerado escritor menor, muito pelo contrário. É preciso desfazer este preconceito", defende.
Por sua vez, Sandra Lima Röhl, presidente da Câmara Cearense do Livro, instituição representante das editoras do Estado, atenta para a qualidade técnica de nossos produtos. Para ela, o livro cearense tem melhorado nos últimos 5 anos, pois as gráficas adquiriram melhores máquinas e qualificaram seus profissionais. Contudo, Sandra adverte: "Podemos crescer mais se o papel do editor não for atropelado. É o editor que garante a qualidade do livro, um diferencial para a venda do produto a nível nacional".
MAIS INFORMAÇÕES:
II Congresso de Escritores, Poetas e Leitores do Ceará. De 23 a 25 de julho, no auditório do Liceu do Ceará.
Abertura às 19h de hoje.
Ingresso: um livro para doação. Contato: 9142.3195
Fabiano dos Santos
"Lançaremos editais nacionais para fomentar a economia do livro"
Quais as atuais prioridades do Ministério da Cultura em termos de políticas públicas nacionais para o livro e a leitura?
A grande prioridade hoje é dotar todos os municípios brasileiros com uma biblioteca, pois um dos grandes motivos da perda do hábito da leitura pelo brasileiro é a pouca presença do livro no imaginário das pessoas. Até porque estamos tratando de um país que tem uma dívida histórica com as políticas voltadas para a democratização do acesso. Mas o Ministério tem também outras prioridades, como fomentar a economia do livro e, para isso, lançaremos diversos editais nacionais a partir de agosto.
Como congressos organizados pela sociedade civil podem ajudar na construção dessas políticas públicas?
O debate permite que todos os envolvidos percebam que compõem uma rede. Não é a toa que o lema do Plano Nacional do Livro e da Leitura é "Estado e sociedade atuando juntos pelo desenvolvimento da leitura no Brasil". Hoje temos plena convicção de só com a participação da sociedade é possível se fazer política pública com qualidade e continuidade. Além disso, essa organização é fundamental para a avaliação das ações governamentais, permitindo reivindicações e/ou correções de rumo.
Diretor de Livro e Leitura do Ministério da Cultura
MAYARA DE ARAÚJOREPÓRTER
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