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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

EM FORTALEZA

Era a alegria dele ficar em casa com as filhas"

Para os alunos e colegas do IFCE, ele era o brincalhão professor Vicente. Mas ele também era pai, era marido, era irmão, era educador. Era o homem da casa, entre a mulher e as duas filhas. Era o pai que não viu a filha festejar os 15 anos. Porque foi assassinado antes

O corpo do professor Vicente foi velado na casa de familiares, no bairro Antônio Bezerra (FOTO: GABRIEL GONÇALVES
) O corpo do professor Vicente foi velado na casa de familiares, no bairro Antônio Bezerra (FOTO: GABRIEL GONÇALVES )
Quando a filha mais velha inteirou os 12 anos, o professor combinou com a mulher: “Só faltam três anos, Claudiana”. Porque era sonho dele ver a filha debutando, com uma “baita festa”. Era a satisfação dele investir no bem-estar das filhas Gabriela, de 12 anos; e Giovana, de 9. O fim de semana era sempre em casa.

Era o tempo que tinha para aproveitar a família, quando chegava de Sobral, onde trabalhava. “Era a alegria dele ficar em casa com as filhas. Ele vivia em função delas”, soluça Claudiana, a mulher do professor Vicente de Paulo Miranda Leitão.

Vicente foi enterrado ontem no cemitério de Antônio Bezerra, depois de ser assassinado na quarta-feira. Ele trabalhava no Instituto Federal de Educação (IFCE) de Sobral. Ia para lá todo domingo. Voltava a cada quinta. Nesta semana, ele receberia um grupo de avaliadores do Ministério da Educação que estão em processo de reconhecimento de cursos. Não deu tempo. Não houve tempo nem para a viagem ao Rio Grande do Sul que ele faria amanhã, para um congresso.

O material que ele levaria já havia sido entregue minutos antes de ele ser morto. “Só deu tempo ele colocar o banner dentro do carro. E disse: ‘Vamos, bebê’. Aí, chegaram os dois”, relembra a mulher, que estava no carro quando os assaltantes chegaram. Ela admitiu que reconheceu os dois presos ontem como os autores da violência.

A propósito, foi a violência o tema do café da manhã desta semana quando o professor soube do atentado a mais um vereador no Ceará. “Olha, Claudiana. Isso é a impunidade. É mais um e por isso fica”, comentou com a mulher. Mas o professor era só alegria. “Era muito brincalhão. Já chegava com um sorriso”, revive o irmão Raimundo Miranda Leitão.

Vicente tinha 46 anos e era um dos oito irmãos. O caçula dos quatro homens. “Nunca teve o prazer de estudar em uma escola particular. Mas estudou, se formou e estava melhorando de vida”, alinha o irmão. A vida do professor Vicente era toda para a educação. Concluiu Edificações na então Escola Técnica, foi estagiário, bolsista, fez concurso para servidor técnico no IFCE e não parou. Queria mais. Terminou Engenharia Civil, fez mestrado e doutorado. Continuou no IFCE. Desta vez, como professor.

Como pesquisador, teve vários trabalhos publicados. Já era referência na área de Saneamento Ambiental. “Ele veio o mundo para fazer o bem”, frisa Virgílio Araripe, reitor em exercício do IFCE. Para ele, faltam investimentos para coibir a falta de educação - algo que o professor combatia tanto, algo do qual o professor acabou sendo vítima.

Como
ENTENDA A NOTÍCIA
O professor Vicente havia estacionado o carro, uma L200, próximo à Praça da Gentilândia, e foi a uma gráfica buscar uns banners. A mulher ficou no carro. Eles foram abordados por dois homens. Um matou o professor.

Depoimentos”Ele era muito tranquilo, brincalhão e se dava bem com todos os professores. Desde o começo, estava lá, em Sobral”. Sarah Moreira, professora de Saneamento Ambiental do IFCE - Sobral.

“Foi servidor técnico, fez mestrado, doutorado. Fez outro concurso para ser professor. Sempre tinha uma piada pra contar pra gente. O papo dele era sempre alegre.” Marcelo Teles, professor de Saneamento Ambiental do IFCE - Sobral.

“Ele tinha muitas amizades. Tinha trânsito desde o rapaz que limpa as cadeiras até o reitor. Uma pessoa humilde e prestativa. Foi meu bolsista no tempo de estudante.” Tassio Lofti, pró-reitor de Desenvolvimento Institucional do IFCE.

“Sempre foi um ser humano muito humilde, muito alegre. Só chegava com um sorriso.” Gutemberg Albuquerque, pró-reitor de Extensão do IFCE.

“Era muito querido, sempre muito alegre, de alto astral. Era um exemplo pra todos nós. Tinha bom relacionamento com todo mundo.” Reuber Saraiva de Santiago, diretor-geral do IFCE - Campus Sobral.

“Trabalhei com ele. Acompanhei o Vicente desde quando ele cursou Edificações na Escola Técnica. Chegou a ser diretor de ensino em Sobral. Sei que ele era uma pessoa realizada, feliz.” Virgílio Araripe, reitor em exercício do IFCE.
Daniela Nogueira
danielanogueira@opovo.com.br

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