(Foto: Instituto Rubem Alves)
O escritor Rubem Alves, de 80 anos, morreu no fim da manhã deste sábado
(19) em decorrência de falência múltipla de órgãos, segundo o Centro
Médico de Campinas (SP). O educador deu entrada no hospital com quadro
de insuficiência respiratória devido a uma pneumonia e estava internado
desde o dia 10 de julho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O óbito
ocorreu às 11h50.
Na manhã deste sábado, o hospital havia enviado um boletim médico para
informar que o paciente teve um agravamento da condição circulatória, e
que caminhava para a falência múltipla de órgãos. Nos dias anteriores,
Alves havia apresentado piora nas funções renais e pulmonar.
Velório
O corpo do escritor será velado na Câmara de Vereadores de Campinas.
Inicialmente, a previsão era que a cerimônia iniciasse às 18h, mas,
segundo Marcos Nooper Alves, filho do educador, houve atraso na
liberação do corpo. Até as 21h20, o corpo não havia chegado.
"Sempre foi um pai maravilhoso, sempre esteve ao lado da família, foi
preocupado com os filhos, com os netos. O legado que ele deixa é o
legado da simplicidade. Ter mostrado que com as coisas simples, com o
vento, as árvores, a gente pode ser muito feliz", disse o filho, de 52
anos.
Intelectual respeitado
Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933 em Boa Esperança, no Sul de
Minas Gerais, e morava em Campinas há décadas. Um dos intelectuais mais
respeitados do Brasil, Alves publicou diversos textos em jornais e
revistas do país e atuou como cronista, pedagogo, poeta, filósofo,
contador de histórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros
infantis e até psicanalista, de acordo com sua página oficial na
internet.
Rubem Alves (Foto: Instituto Rubem Alves)
Educado em família protestante, estudou teologia no seminário
Presbiteriano do Sul. Tornou-se pastor de uma comunidade presbiteriana
no interior de Minas e casou com Lídia Nopper, com quem teve três
filhos, Sérgio, Marcos e Raquel. O autor afirmava que descobriu que
podia escrever para crianças ao inventar histórias para a filha.
Em 1963, viajou para Nova York para fazer uma pós-graduação. Retornou à
paróquia em Lavras (MG), no período da ditadura militar, e foi listado
entre pastores procurados pelos militares. Saiu com a família do Brasil e
foi estudar em Princeton, também nos Estados Unidos, onde escreveu a
tese de doutorado, que foi publicada em 1969 por uma editora católica
com o título de 'A Theology of Human Hope' (Teologia da Esperança
Humana).
Retornou ao Brasil em 1968 e demitiu-se da Igreja Presbiteriana. No ano
seguinte foi indicado para uma vaga de professor de filosofia na
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro (Fafi), atual
Unesp, onde permaneceu até 1974.
No mesmo ano ingressou no Instituto de Filosofia da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), onde fez a maior parte da sua carreira
acadêmica até se aposentar no início da década de 1990. Em 1984 iniciou o
curso para formação em psicanálise e teve uma clínica até 2004.
Escritor
O escritor dizia que com a literatura e a poesia começou a realizar seu
sonho fracassado de ser músico. Citava como referências Nietzsche, T.
S. Eliot, Kierkegaard, Camus, Lutero, Agostinho, Angelus Silésius,
Guimarães Rosa, Saramago, Tao Te Ching, o livro de Eclesiastes,
Bachelard, Octávio Paz, Borges, Barthes, Michael Ende, Fernando Pessoa,
Adélia Prado e Manoel de Barros.
Entre as obras infantis dele estão "A volta do pássaro encantado" e "A
pipa e a flor". Alves escreveu também sobre teologia, filosofia,
educação, além de crônicas. É autor de "Tempus fugit", "O quarto do
mistério", "A alegria de ensinar", "Por uma educação romântica" e
"Filosofia da ciência", e diversos outros. Em 2009 ficou em 2º lugar do
Prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas, com o livro "Ostra Feliz
Não Faz Pérola".
Educador
Sobre a paixão pela educação, escreveu: "Educar não é ensinar
matemática, física, química, geografia, português. Essas coisas podem
ser aprendidas nos livros e nos computadores. Dispensam a presença do
educador. Educar é outra coisa. [...] A primeira tarefa da educação é
ensinar a ver. [...] Quem vê bem nunca fica entediado com a vida. O
educador aponta e sorri – e contempla os olhos do discípulo. Quando seus
olhos sorriem, ele se sente feliz. Estão vendo a mesma coisa. Quando
digo que minha paixão é a educação estou dizendo que desejo ter a
alegria de ver os olhos dos meus discípulos, especialmente os olhos das
crianças".
Rubem Alves mantinha instituto em Campinas
(Foto: Instituto Rubem Alves)
Em entrevista à Globo News em agosto de 2012, Rubem Alves defendeu que a
educação no Brasil deveria passar por mudanças. “Na educação a coisa
mais deletéria na relação do professor com o aluno é dar a resposta. Ele
tem que provocar a curiosidade e a pesquisa”, disse.
A prova do vestibular também foi alvo de críticas à época. “Se os
reitores das universidades fizessem o vestibular, seriam reprovados,
assim como os professores de cursinho. Então, por que os adolescentes
têm que passar?”, indagou.
Morte e religião
Em um texto biográfico no site oficial, o educador escreveu trechos
sobre a morte. "Eu achava que religião não era para garantir o céu,
depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos
vivos."
Nota na íntegra do hospitalO intensivista e
cardiologista do Hospital Centro Médico de Campinas, Roberto Munimis,
acaba de informar a rápida evolução no quadro do paciente Rubem Alves,
que veio a óbito por falência múltipla orgânica, às 11h50 do dia 19 de
julho de 2014. Rubem Alves deu entrada no Centro Médico de Campinas no
dia 10 de julho de 2014 e desde então está na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) por apresentar insuficiência respiratória devido a uma
pneumonia.