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segunda-feira, 1 de maio de 2017

NOSSA HOMENAGEM A BELCHIOR-APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO

Artigo: Os enigmas de Belchior


Por: Carlos Marcelo
Arquivo EM/D.A Press
A morte de Belchior não encerra os enigmas que o cantor cearense deixou ao longo das décadas.

Como esse cara conseguiu amalgamar Dylan e o Brasil dos anos 1970 ao fazer de Alucinação um dos 10 maiores discos da música brasileira?
Como ele, exatamente com a sua Alucinação, conseguiu deslocar o eixo da música brasileira (Rio-SP-Bahia) como só tinha ocorrido anteriormente com Milton e Lô no disco Clube da Esquina?

Como esse cara, quando o país se interessava pelo esoterismo para escapar da dureza concreta da ditadura militar, teve coragem de cantar que não estava interessado em nenhuma teoria “nem nessas coisas do Oriente, romances astrais” porque a alucinação dele era “suportar o dia-a-dia” e o delírio, a “experiência com coisas reais”?

Por que “teoria”, na voz inconfundível do cearense, era “txiuria”, não “téoria” ou “têoria”?

Por que foi Elis, não Gal ou Bethania, quem o consagrou? 

Por que A palo seco, de versos definitivos como “Tenho 25 anos de sonho, de sangue e de América do Sul”, não ganhou o mesmo status de hino de Pra não dizer que não falei de flores?

Por que Paralelas, do verso intenso “Teu infinito sou eu”, caiu tão bem na voz de cantores de estilos tão diferentes como Vanusa e Erasmo Carlos?

Como ele conseguia citar Beatles e Luiz Gonzaga em uma mesma canção?

Como, no meio do recado para Lennon, ele conseguiu fazer da tradução de "Happiness is a warm gun" um verso igualmente marcante, “A felicidade é uma arma quente”?

Por que ele não foi apenas um rapaz latino-americano?

Como surgiu o medo do avião? Conseguiu superar?

Por que ele sumiu? Por que não reapareceu?

Mas ainda dá tempo de revelações, porque as músicas – cheias de enigmas e de pistas – permanecem. 

Entre elas, belezas avassaladoras e desesperadas como Pequeno mapa do tempo, dos versos “Eu tenho medo de abrir a porta/ E dar pro sertão da minha solidão”, do disco que define no título o espírito do cantor: Coração selvagem.

Vá em paz, Belchior. Mas fique com a gente.

O seu “desespero de 76” não saiu de moda. O Brasil ainda respira desencanto e inspira cuidados.

E que o seu canto torto, feito faca, uma só lâmina, continue cortando a carne de todos nós. 

Em meio a tantos enigmas, ao menos você nos deixou uma resposta. Uma certeza. Precisamos, todos, rejuvenescer.

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