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terça-feira, 30 de outubro de 2012

PARANGABA - 91 ANOS


Bairro comemora 91 anos com muita história para contar
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THIARA NOGUEIRA/ESPECIAL PARA O POVO
Parangaba foi reconhecido como bairro em 1921. Ainda hoje é rico em tradição, mantendo práticas culturais como das raizeiras

Dia 31 de outubro de 1921. Há quase 91 anos, o então distrito da Porangaba tornava-se bairro de Fortaleza. Beirar o centenário já seria motivo suficiente para fazer da Parangaba um dos mais importantes bairros da Capital. Só que o bairro também preserva um importante legado histórico e cultural.


Uma das mais antigas manifestações culturais do Ceará é realizada na Parangaba. Não se sabe ao certo quando a famosa Festa dos Caboclos começou, mas vem desde quando a Porangaba (nome original da área) era um aldeamento indígena.

Segundo o historiador e mestre em preservação do patrimônio cultural, João Paulo Vieira, a celebração consistia na peregrinação de uma coroa de espinhos – feita de ferro -, doada pelo padre Francisco Pinto, um dos primeiros jesuítas a chegar ao Ceará.

“É algo muito antigo e começou porque essa região era povoada por diferentes tribos indígenas. A festa foi criada para unir, era um sinônimo de paz”, informa o padre Jovanês Vitoriano, há um ano à frente da paróquia Bom Jesus dos Aflitos.

Segundo o padre, a peregrinação envolvia outras cidades, como Maranguape e Viçosa do Ceará. Como era feita a cavalo ou a pé, a manifestação durava meses. Durante o percurso, donativos eram recolhidos para a Igreja.

Atualmente, a Festa dos Caboclos é chamada de Festa da Coroa de Bom Jesus dos Aflitos. Ela acontece, anualmente, entre os meses de setembro e janeiro. A coroa de ferro passa por diferentes capelas da região e volta à igreja matriz no dia 23 de dezembro, quando sobe de volta ao altar e é postada acima da imagem de Jesus Cristo.
 
História
A região onde hoje fica o bairro da Parangaba começou a ser habitada no século XVI. Segundo João Paulo, que também é morador do bairro, o local serviu de refúgio para os índios potiguaras. Eles viviam no atual território do Rio Grande do Norte e fugiam dos primeiros contatos com os colonizadores, ocupando também outras áreas do litoral cearense.

Em 1656, é fundado o primeiro aldeamento jesuítico na área, com o objetivo de catequizar os índios. “Eram três aldeamentos ao redor de Fortaleza: Porangaba, Messejana e Caucaia”, explica o historiador.

No ano de 1759, a aldeia passa a se chamar Vila de Arronches. Ela fica nesta condição até 1835, quando é transformada em distrito de Fortaleza, permanecendo nesta condição até 1921.



Igreja precisa de reformas

A Igreja de Bom Jesus dos Aflitos é um dos bens históricos mais importantes da Parangaba. Ela, inclusive, é tombada pela Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor).

Segundo os registros da igreja, a primeira capela da região data de 1609. Depois, é fundada a primeira igreja, com o nome de Nossa Senhora das Maravilhas.

A paróquia é impedida de funcionar entre 1835 e 1875, até que novamente é recriada com o nome de Bom Jesus dos Aflitos. Segundo a Secultfor, é neste momento que é edificada a atual estrutura da igreja.

O padre Jovanês Vitoriano explica que a igreja matriz compõe uma das chamadas “quatro igrejas irmãs”. “As igrejas de Messejana, Parangaba, Caucaia e Viçosa foram iniciadas no mesmo período e possuem estruturas semelhantes”, explica.

Atualmente, a igreja apresenta uma série de problemas estruturais, necessitando de uma reforma urgente. Externamente, a pintura está desgastada e os muros pichados. Cenário semelhante a outros bens históricos da Parangaba, como a estação ferroviária e a antiga sede da subprefeitura.

Jovanês conta que os moradores do bairro são “muito tradicionalista”. Ele também diz que a maioria dos frequentadores da paróquia não mora mais no bairro. “Acho que moravam aqui, saíram, mas se afeiçoaram a igreja e continuam vindo”, diz.

A secretária da paróquia, Terezinha Brito, 53, comenta que a insegurança tem afastado os fieis. Em 2011, foram três assaltos e, neste ano, mais dois. “Eles (bandidos) entram de madrugada e arrombam os cofres”, informa.

O padre afirma ter dificuldades em conseguir, junto a Secultfor, a autorização para a reforma do templo, por necessitar de um projeto arquitetônico. “Era um órgão que deveria nos auxiliar”, critica.

A coordenadora de Patrimônio Histórico da Secultfor, Clelia Monasterio, informa que o órgão já auxiliou na reforma do teto da igreja. Ela reconhece que a secretaria não dispõe de técnicos em número suficiente para ajudar na elaboração do projeto arquitetônico. “A gente acompanha e orienta”, afirma. Segundo Clelia, o projeto é indispensável para que seja feita a reforma de um bem tombado.

A lagoa da Parangaba já secou

O taxista Valdir de Oliveira Sarmento, 80, afirma ser um dos mais antigos moradores da Parangaba. E foi testemunha de um fenômeno inusitado: o dia em que a lagoa da Parangaba - a que possui o maior volume de água em Fortaleza - secou.

Apesar de seu Valdir não lembrar do ano do acontecido com exatidão, ele explica que foi “na época da guerra dos americanos”, referindo-se a II Guerra Mundial. “Na época, eles (soldados) ficavam no Pici e houve um período de seca. E eles vinham com aqueles caminhões e tiravam muita água da lagoa para usar na base. Até que secou total”, relembra Valdir.

O historiador João Paulo Vieira conta que, segundo os antigos moradores, existia apenas um riacho onde, hoje, existe a lagoa.  “Ele teria sido construída num período posterior ao aldeamento”, comenta João Paulo. Isso teria ocorrido porque a areia foi retirada do local para a construção das casas.

Valdir Sarmento lembra que, ao chegar no bairro, “era tudo areira. Não tinha nada de calçamento”. Ir ao Centro de Fortaleza era como viajar a outra cidade. “O pessoal só andava de jipe e boi. Era muito complicado, porque tinham poucos carros na época”, diz.

Ele ainda alcançou a época de funcionamento do trem de passageiros que passava pela estação da parangaba. “Ele ia de Fortaleza ao Crato. Eu tinha uns 25 anos e, como minha família morava em Iguatu, a gente pegava o trem para viajar. Andei muito nele, era até uma Maria Fumaça. A gente saía de manhã e só chegava de tardezinha”, relembra.

Bairro está em fase de forte crescimento

O bairro da Parangaba passa por um período de forte desenvolvimento. Uma sério de investimentos públicos e privados são realizados no bairro. Por exemplo, a Parangaba promete ser um diferencial em relação ao transporte público, reunindo um terminal de ônibus, o metrô e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

O cabeleireiro José Alves, 63, que trabalha há 37 anos no bairro, critica uma postura anti desenvolvimentista dos moradores do bairro. “A Parangaba era desejada. Todo mundo tinha vontade de morar ou construir uma loja aqui. Mas os donos da Parangaba eram muito orgulhosos e não cediam, alugavam e nem vendiam os prédios”, afirma.

Segundo ele, havia um apego muito forte a história dos imóveis. O mais estranho é que Tatu (como é mais conhecido no bairro) preserve, na barbearia onde trabalha, um mobiliário antigo e cadeiras que já contam com mais de 150 anos.

A diretora da holding do Grupo Marquise - responsável pelas obras do shopping Parangaba -, Carla pontes, destaca que a Parangaba tem uma posição geográfica bastante estratégica na Cidade, localizando-se numa região central de Fortaleza. “É um bairro que cresceu muito nos últimos anos”, afirma. Ela também destaca a importância cultural da Parangaba. “O shopping pretende promover eventos de resgate da cultura do bairro”, adianta.

EM ALTA

SERVIÇOS
O bairro da Parangaba oferece boa parte dos serviços que os moradores precisam, como bancos e comércios.

EM BAIXA

PRESERVAÇÃO
Apesar de ser um bairro rico em bens históricos materiais, os prédios antigos sofrem com a falta de conservação.

RONDA
O Povo nos Bairros publica o telefone de contato dos policiais da Ronda do Quarteirão no bairro Parangaba
3457 1047
8623 4031 e 190

30 MIL
O número total de habitantes da Parangaba é de 30.947 pessoas, segundo Censo 2010 do IBGE.
A personagem
A aposentada Ivanice dos Santos, 85, é uma das frequentadoras mais assíduas da paróquia Bom Jesus dos Aflitos. “Todo santo dia venho assistir à missa de 6h30min”, conta. Ela relembra o quanto a igreja era bonita antes, cheia de santos nas laterais. “A imagem de Nossa Senhora das Maravilhas era linda, parecia uma boneca”, comenta.
  

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