Livro conta como a imagem dos dinossauros foi modificada por estudos recentes
REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A informação, convenhamos, é um tanto chocante. Pode fazer com que muita
gente sinta que a sua infância foi uma enorme mentira. Mas não se pode
fugir dos fatos: brontossauros não existem.
A rigor, o sepultamento científico do brontossauro, ou
Brontosaurus excelsus,
aconteceu em 1903, quando o paleontólogo americano Elmer Riggs publicou
uma pesquisa mostrando que o bicho, então o maior dinossauro conhecido,
não tinha características suficientemente únicas para merecer um gênero
só para si.
Na verdade, ele era muito parecido com o
Apatosaurus ajax,
espécie descrita antes. E, como o nome mais antigo é o que vale na
nomenclatura científica, o caso estava encerrado: o certo era
"apatossauro".
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Editoria de arte/Folhapress |
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Só que, em 1905, o museu de história natural da Universidade Yale (EUA)
resolveu exibir sua impressionante reconstrução do esqueleto do bicho, o
primeiro do tipo a ser visto pelo público leigo. E o nome original, o
de brontossauro, foi usado na exposição. É claro que o sucesso da mostra
foi suficiente para que o nome "errado" fosse consagrado em (quase)
todos os livros infantis sobre dinossauros publicados desde então.
Isso inclui os livros que um garoto de Nova Jersey chamado Brian Switek
devorava nos anos 1980. O menino virou escritor, blogueiro e
paleontólogo amador - chegou até a se mudar para Utah, no desértico
sudoeste dos EUA, só para ficar mais perto das principais jazidas de
fósseis do país. E resolveu batizar seu novo livro de "My Beloved
Brontosaurus" ("Meu Amado Brontossauro").
O "gancho" para o título, claro, é a enrolada história do nome do dino,
que Switek conta em detalhes na obra. No livro, os "finados"
brontossauros são uma espécie de símbolo das múltiplas mudanças de
imagem pelas quais os dinossauros têm passado nas últimas décadas.
RECAUCHUTADOS
A lista de características "recauchutadas" é longa, a começar pela
postura dos próprios apatossauros e assemelhados. Paleontólogos do
século 19 tinham certeza de que bichos com pescoço e cauda tão compridos
--sem falar no tamanho do tronco-- mal conseguiam suportar o próprio
peso e, para aguentar o tranco, precisavam ficar dentro d'água, mas
reavaliações de seus esqueletos indicam que sua postura era ereta e
elegante mesmo em terra firme.
Também caiu totalmente por terra a ideia de que os dinos eram
basicamente lagartos supercrescidos, com metabolismo lento e "sangue
frio". Quando postos sob o olhar do microscópio, os ossos desses animais
revelam um padrão acelerado de crescimento, que só podia ter sido
sustentado caso eles tivessem "sangue quente" como nós. Não faz muito
sentido pensar neles como se fossem répteis, portanto.
Da mesma maneira, um dado que parecia ficar totalmente restrito ao
terreno da especulação - afinal, que cor eles tinham? - passou a ser
investigado de forma muito mais sólida nos últimos anos graças à
identificação, nos fósseis de dinos, da preservação de melanossomos,
pequenos "sacos" de pigmento que são uma das formas de dar cor aos seres
vivos.
Os melanossomos, aliás, só foram identificados graças a outro elemento
central da nova imagem dos dinossauros, o aparecimento cada vez mais
frequente de fósseis com penas (as estruturas celulares costumam estar
associadas à penugem dos dinos). Hoje, já se contam tantas espécies de
dinossauros com penas, distribuídas ao longo dos mais variados ramos da
árvore genealógica do grupo, que é possível imaginar que as penas tenham
sido a regra na aparência desses animais, mesmo no caso das formas
grandalhonas, como os tiranossauros.
O livro aborda outros temas fascinantes, como o sexo dos dinossauros (há
técnicas hoje para saber se determinado bicho era macho ou fêmea) e
seus sistemas de comunicação. Mas a principal mensagem da obra aparece
quando Switek aborda a origem e o sumiço dos bichos.
No primeiro caso, enquanto antes se acreditava que os dinos viraram os
principais vertebrados terrestres graças às suas patas eretas e ágeis,
os estudos mais recentes indicam que uma série de outros animais
desenvolveram essas características mais ou menos na mesma época, embora
tenham se extinguido --em parte, foi graças a um lance de dados da
evolução que os dinossauros ganharam o estrelato.
E um lance de dados parecido --o corpo celeste que atingiu nosso planeta
há 65 milhões de anos-- é o principal suspeito de ter eliminado o
grupo. Isso, diz Switek, mostra por que estudar dinossauros é mais do
que um passatempo de crianças ou nerds incorrigíveis: a ascensão e queda
desses gigantes ajudam a enxergar a fragilidade e a contingência da
vida na Terra.
"MY BELOVED BRONTOSAURUS (269 págs.)
AUTOR Brian Switek
EDITORA Scientific American/Farrar, Straus and Giroux
PREÇO R$ 25,25 (livro eletrônico)