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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

CIÊNCIA

Livro conta como a imagem dos dinossauros foi modificada por estudos recentes

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A informação, convenhamos, é um tanto chocante. Pode fazer com que muita gente sinta que a sua infância foi uma enorme mentira. Mas não se pode fugir dos fatos: brontossauros não existem.
A rigor, o sepultamento científico do brontossauro, ou Brontosaurus excelsus, aconteceu em 1903, quando o paleontólogo americano Elmer Riggs publicou uma pesquisa mostrando que o bicho, então o maior dinossauro conhecido, não tinha características suficientemente únicas para merecer um gênero só para si.
Na verdade, ele era muito parecido com o Apatosaurus ajax, espécie descrita antes. E, como o nome mais antigo é o que vale na nomenclatura científica, o caso estava encerrado: o certo era "apatossauro".

Editoria de arte/Folhapress
Só que, em 1905, o museu de história natural da Universidade Yale (EUA) resolveu exibir sua impressionante reconstrução do esqueleto do bicho, o primeiro do tipo a ser visto pelo público leigo. E o nome original, o de brontossauro, foi usado na exposição. É claro que o sucesso da mostra foi suficiente para que o nome "errado" fosse consagrado em (quase) todos os livros infantis sobre dinossauros publicados desde então.
Isso inclui os livros que um garoto de Nova Jersey chamado Brian Switek devorava nos anos 1980. O menino virou escritor, blogueiro e paleontólogo amador - chegou até a se mudar para Utah, no desértico sudoeste dos EUA, só para ficar mais perto das principais jazidas de fósseis do país. E resolveu batizar seu novo livro de "My Beloved Brontosaurus" ("Meu Amado Brontossauro").
O "gancho" para o título, claro, é a enrolada história do nome do dino, que Switek conta em detalhes na obra. No livro, os "finados" brontossauros são uma espécie de símbolo das múltiplas mudanças de imagem pelas quais os dinossauros têm passado nas últimas décadas.
RECAUCHUTADOS
A lista de características "recauchutadas" é longa, a começar pela postura dos próprios apatossauros e assemelhados. Paleontólogos do século 19 tinham certeza de que bichos com pescoço e cauda tão compridos --sem falar no tamanho do tronco-- mal conseguiam suportar o próprio peso e, para aguentar o tranco, precisavam ficar dentro d'água, mas reavaliações de seus esqueletos indicam que sua postura era ereta e elegante mesmo em terra firme.
Também caiu totalmente por terra a ideia de que os dinos eram basicamente lagartos supercrescidos, com metabolismo lento e "sangue frio". Quando postos sob o olhar do microscópio, os ossos desses animais revelam um padrão acelerado de crescimento, que só podia ter sido sustentado caso eles tivessem "sangue quente" como nós. Não faz muito sentido pensar neles como se fossem répteis, portanto.
Da mesma maneira, um dado que parecia ficar totalmente restrito ao terreno da especulação - afinal, que cor eles tinham? - passou a ser investigado de forma muito mais sólida nos últimos anos graças à identificação, nos fósseis de dinos, da preservação de melanossomos, pequenos "sacos" de pigmento que são uma das formas de dar cor aos seres vivos.
Os melanossomos, aliás, só foram identificados graças a outro elemento central da nova imagem dos dinossauros, o aparecimento cada vez mais frequente de fósseis com penas (as estruturas celulares costumam estar associadas à penugem dos dinos). Hoje, já se contam tantas espécies de dinossauros com penas, distribuídas ao longo dos mais variados ramos da árvore genealógica do grupo, que é possível imaginar que as penas tenham sido a regra na aparência desses animais, mesmo no caso das formas grandalhonas, como os tiranossauros.
O livro aborda outros temas fascinantes, como o sexo dos dinossauros (há técnicas hoje para saber se determinado bicho era macho ou fêmea) e seus sistemas de comunicação. Mas a principal mensagem da obra aparece quando Switek aborda a origem e o sumiço dos bichos.
No primeiro caso, enquanto antes se acreditava que os dinos viraram os principais vertebrados terrestres graças às suas patas eretas e ágeis, os estudos mais recentes indicam que uma série de outros animais desenvolveram essas características mais ou menos na mesma época, embora tenham se extinguido --em parte, foi graças a um lance de dados da evolução que os dinossauros ganharam o estrelato.
E um lance de dados parecido --o corpo celeste que atingiu nosso planeta há 65 milhões de anos-- é o principal suspeito de ter eliminado o grupo. Isso, diz Switek, mostra por que estudar dinossauros é mais do que um passatempo de crianças ou nerds incorrigíveis: a ascensão e queda desses gigantes ajudam a enxergar a fragilidade e a contingência da vida na Terra.
"MY BELOVED BRONTOSAURUS (269 págs.)
AUTOR Brian Switek
EDITORA Scientific American/Farrar, Straus and Giroux
PREÇO R$ 25,25 (livro eletrônico)

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