O COLETIVO TÁ NA MODA
Médios e pequenos empreendedores da moda em Fortaleza unem esforços para concorrer com o mercado do varejo tradicional
Perceber novas oportunidades de mercado, torná-las atrativas para outras pessoas, comunicar-se com públicos diversos e até, quem sabe, influenciar positivamente a cidade na qual se está inserido: esses são alguns dos desafios de quem se arrisca no mundo da venda em varejo. De peça em peça, de pessoa em pessoa, o caminho vai sendo trilhado. É a criatividade e a vontade de inovar que alavancam o empreendedorismo brasileiro, principalmente quando o assunto é o segmento de moda e acessórios.
O Tribuna do Ceará foi conhecer de perto um novo cenário da venda em varejo em Fortaleza, que se estabelece através da criatividade e da coletividade. A partir dele, percebe-se a lição de que é cada vez mais importante ampliar a construção de novos projetos em parceria, buscar soluções específicas que permitam aos pequenos negócios inovar e a aumentar sua produtividade, além de agregar serviços – e valor – a seus produtos.
Os desafios da inovação e da maior competitividade persistem devido à própria dinâmica do mercado da moda – ainda mais em um cenário de ajustes econômicos em todo o país. Em 2014, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Brasil chegou à quarta posição com melhor desempenho econômico no varejo de moda. Com saldo positivo nos últimos anos, o setor movimentou cerca de R$ 120 bilhões, entre 2008 e 2014; sem contabilizar os acessórios, responsáveis por outros R$ 40 bilhões no mesmo período.
Não restam dúvidas de que o mercado é promissor. Agora, é preciso olhar para o futuro e atentar para as tendências, que vão desde a mudança na forma como as pessoas vivem, trabalham e compram até a relação com marcas, modelos de venda e formas de consumo e sustentabilidade.
A partir do relato de três modelos de iniciativas nesse mercado, o Tribuna do Ceará busca mostrar que é possível atrair o consumidor e oferecer produtos de qualidade, a custos diversos, aliados a uma nova experiência de compra e venda. Para além do gesto de comprar, o ambiente de comércio divide espaço com a diversão, o lúdico e a responsabilidade social.
O babado é forte
O coletivo de feira alternativa Babado Coletivo oferece uma nova experiência de venda
Por Jéssica Welma
Primeiro passo para uma empreitada de sucesso: saber identificar oportunidades. Foi assim que Hadji Aires, recém-chegado ao curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece), percebeu que estudar numa turma com cerca de 50 mulheres poderia ser um caminho para conseguir uma renda extra. Morador do Bairro Maraponga, onde fica o tradicional centro de vendas em atacado Maraponga Mart Moda, Hadji decidiu usar seu cartão de crédito para comprar roupas e vendê-las entre as colegas.
Não demorou para o jovem ganhar destaque na faculdade com a venda em varejo. Como o negócio estava dando certo, largou o Serviço Social e migrou para o curso de Administração. Com o tempo e a vivência de novas experiências, Hadji começou a ver a moda muito além da venda das roupas.
E foi nesse embalo de “pensar fora da caixa” que nasceu a feira alternativa Babado Coletivo, em 2013. Hoje, aos 28 anos, Hadji é o idealizador e organizador do modelo de vendas que tem dado vida a uma nova relação entre produtores e consumidores do varejo e do artesanato em Fortaleza.
O Babado Coletivo surgiu como atividade secundária. “Eu tenho uma loja de roupas femininas com mais dois sócios. A gente não tinha loja física, e o nosso produto era bem diferenciado, bem criativo, e sentíamos falta de um espaço onde pudéssemos vender esse produto, num contexto mais coerente com a nossa identidade”, lembra Hadji.
Semelhantemente à inquietação do jovem, outras marcas – com a mesma proposta criativa – sentiam a falta de um novo espaço.
“Os eventos que aconteciam aqui, em Fortaleza, eram muito voltados à promoção, ao bazar, à liquidação, mas a gente não tinha estoque para oferecer nesse tipo de evento”, ressalta. Na primeira edição, que aconteceu no Bar & Restô Mambembe, o evento contava com 12 marcas, focadas na cultura cearense. Esse número foi aumentando até que o Babado Coletivo se abriu para outras áreas, tornando-se um importante evento de economia criativa.
“Assim como a gente estava carente de um espaço para expor de forma criativa, o público também estava carente de visitar um espaço que não fosse só para comprar, fosse também para se divertir”. (Hadji Aires)
Para além da venda, o Babado se transformou em um evento no calendário cultural de Fortaleza, ocupando espaços públicos, locais abertos e democráticos. A feira transformou a experiência da compra em uma experiência de cultura e lazer.
A abordagem lúdica é o principal atrativo da feira: não só de vendas vive o Babado. Em cada evento, a expressão cultural, musical e gastronômica da cidade ganha espaço. O público percebe que o evento atrai não só pela oportunidade de compra.
Ao longo dos últimos três anos, o Babado foi se redesenhando e se adequando aos anseios do públicos e dos produtores que, cada vez mais, buscam o coletivo. O grupo também viu que era preciso capacitar o produtor para que ele pudesse potencializar as vendas.
“Eu sou formado em administração, então, na parte de gestão, tenho facilidade, mas percebia que a maioria dos empreendedores criativos são jornalistas, designers de moda, publicitários e, na hora de gerenciar os recursos, surgem dificuldades”, pontua Hadji.
A partir daí, começaram parcerias com o Sebrae e com outras pessoas com destaque no ramo de negócios da moda. Para participar do Babado Coletivo, é preciso atender a critérios como ser uma marca cearense, autoral e produtora dos próprios produtos. “Existe uma fila de espera muito grande. Hoje são 200 marcas ligadas ao coletivo. Nesses três anos, algumas marcas deixaram de existir, mas a maioria cresceu”, ressalta o idealizador do evento.
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