Dia de São José é momento de rezar e pedir por mais chuvas
O santo católico é reverenciado de forma especial pelos sertanejos cearenses
FOTO: HONÓRIO BARBOSA
Hoje, os católicos do Ceará se unem em preces para reverenciar o padroeiro e agradecer pelas chuvas
Patrono da Igreja Católica, pai adotivo de Jesus, operário da madeira, exemplo de chefe de família e de obediência a Deus. Essas são algumas representações de São José no imaginário dos fiéis, cuja simbologia ganha força com a retratação de cenas da vida cotidiana do santo por artistas, nos diversos períodos da história, principalmente no Renascimento e no Barroco.
Mas é justamente no Nordeste e Ceará que a devoção a São José, considerado padroeiro do povo cearense, destaca-se por completar, juntamente com Santa Luzia (festejada no dia 13 de dezembro) e São Sebastião (20 de janeiro), a trilogia dos santos que intercedem junto a Deus para mandar chuva, sinônimo de fartura na mesa dos nordestinos.
Com a quadra chuvosa quase consolidada, hoje, Dia de São José, os agricultores dos quatro cantos do Ceará aproveitam para agradecer, por meio de orações, missas, novenas, festa e com mesa farta.
A popularidade de São José faz com que o santo seja festejado em diversas paróquias da Capital e do Interior, sendo uma das mais representativas a da Paróquia São José de Ribamar, em Aquiraz, primeira capital do Ceará, que celebra desde o dia 9 a festa de seu padroeiro com o tema "Ide a José e fazei o que ele vos disser".
Outra localidade que também celebra São José é a comunidade Baú, em Guaiúba, quando fiéis saem em procissão com a imagem do Santo, que passa o ano na casa de uma família. A escolha é feita por sorteio, servindo para mostrar a relação do Santo com a família, conta o padre Emílio César Porto Cabral, responsável pela paróquia.
Na Capital, logo mais às 8h30, começam as festividades que marcam o encerramento das homenagens ao santo, com a celebração da missas dos Enfermos às 8h30, e a dos Josés, às 10 horas. Os fiéis saem em procissão às 17 horas, finalizando com a concelebração solene presidida por dom José Antonio Aparecido Tosi Marques, arcebispo de Fortaleza.
Homenagens
Ao longo da história, as homenagens a São José ganham conotações diferentes. Em alguns momentos, mais caracterizadas pelas manifestações culturais, marcadas pelas tradicionais promessas que, caso a chuva caísse, o agricultor teria que pagar. Muitas vezes, envolviam sacrifícios físicos como longas caminhadas. Existiam práticas que consistiam em "roubar" a imagem do Santo, devolvido no dia seguinte após o pedido, que podia ser um bom inverno ou um marido justo como o de Maria.
Em Aquiraz, a festa de São José tem caráter especial neste ano, segundo do triênio que antecede o aniversário de 300 anos de instalação da paróquia, comemorado em agosto de 2013, afirma o pároco Antônio Robério Martins de Queiroz, reconhecendo "fervor do povo".
Esperança
Embora a Ciência refute a ligação, o Dia de São José acontece próximo à passagem do Equinócio, dia 22, quando o sol se desloca sobre o Equador. Esta continua sendo a "esperança para o nordestino", destaca o pároco de Aquiraz. Para a meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Mary Sakamoto, "a relação é apenas cultural e nós respeitamos essa visão do homem sertanejo".
Coincidência ou não, esse período do ano é favorável para as chuvas no Estado, devido à posição mais ao Sul da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). "Parte dessa relação tem a ver com isso", reconhece, destacando que a quadra chuvosa deste ano está se confirmando. A irregularidade das chuvas, até o momento, não está sendo boa para a agricultura. No entanto, a segunda quinzena de março é a data limite para a confirmação de um bom inverno no Ceará.
FIQUE POR DENTRO
Religiosidade é usada para evangelizar
Utilizar a devoção a São José, que nessa época do ano, fica bastante acentuada para evangelizar. A proposta é do padre Emílio César Porto Cabral, responsável pela comunidade do Baú, em Guaiúba, localizada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Com o tema "Como crer se não escutar?", o pároco pretende aproveitar o momento para evangelizar as comunidades do Baú e Itacima, distritos de Guaiúba. A justificativa é de que a "fé vem através da escuta. Não é um hábito ou tradição", exorta. Considera importante a dimensão religiosa e cultural que a festa proporciona. "A religiosidade é típica de nossa cultura e deve ser aproveitada para evangelizar. Prova disso é a tradição que permeia o povo da região, cujas capelas existem há mais de meio século nos dois distritos. No entanto, essa tradição precisa ser canalizada e transformada em fé verdadeira que é comprometida com a justiça.
IRACEMA SALESREPÓRTER